<font color=0093dd>Ouviu-se as vozes da indignação</font>
Da manifestação que trouxe a Lisboa milhares de vozes descontentes com a extinção de freguesias, saiu a promessa de continuar a lutar em defesa do Poder Local democrático.
Defender as freguesias é defender Abril
Antes da hora marcada, muitos milhares, vindos de todos os pontos do País, já se encontravam junto ao Marquês de Pombal, no Parque Eduardo VII, esperando o início do desfile, que juntou freguesias de todos os concelhos e distritos. O ambiente foi de festa. Já as razões são de luta, convicta e determinada, uma vez que a Proposta de Lei do Governo não convence quem sente na pele as suas consequências. E foi isso que ali foram dizer, muitos pela primeira vez.
Miguel Relvas foi um dos principais visados durante todo o protesto, a quem chamaram «piegas» e o «coveiro das freguesias». E porque onde há coveiros normalmente há padres, de Braga veio um que encabeçava o cortejo fúnebre do ministro Miguel Relvas, simbolizando a morte do Governo e a revolta das populações com a política que tem desenvolvido. Daquele distrito vieram ainda uns diabos, que escoltavam uma efígie do membro do Executivo PSD/CDS que quer acabar com as freguesias, algumas com séculos, como é o caso de Vilar Seco (Nelas), Santa Susana (Alcácer do Sal) ou de Toutosa (Marco de Canavezes).
O primeiro distrito a desfilar foi mesmo Viana do Castelo, que, por entre ranchos folclóricos, bombos, ciclistas e um Grupo de Triquelitraques de Afife, disse «não à extinção de freguesias» e reclamou «trabalho com direitos». De Beja, acompanhados por grupos corais, femininos e masculinos, os manifestantes vestiram-se de luto, contra a intenção de se acabar com o Poder Local Democrático. «Defender as freguesias é defender Abril», lia-se numa pancarta, que antecedia a passagem dos mineiros de Aljustrel. Em outras pancartas reclamava-se «direito à saúde e à segurança» e lembrava-se que as populações do interior «não são cidadãos de segunda». As gentes de Castro Verde também compareceram, lembrando que «a morte das freguesias não pode ser prémio de um trabalho inigualável em tantos séculos de história» e que «se cada freguesia é uma raiz, acabar com elas é destruir o País».
Presentes estiveram ainda muitos movimento. O dos Utentes de Saúde Pública, numa enorme faixa, referiu que «não aceitam que a população esteja condenada a morrer por falta de assistência». Já a Delegação Regional de Évora do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) salientava que é preciso dizer «Basta» à política seguida pelos sucessivos governos, e que os trabalhadores «estão fartos de pagar a crise».
Também o Algarve e o Ribatejo estiveram presentes, com o concelho de Coruche (Santarém) a dizer «não» à extinção de duas freguesias. Do distrito de Setúbal, «população, trabalhadores e autarcas» estiveram unidos em defesa do Poder Local democrático.
Democracia ficará mais pobre
O Conselho Nacional da Confederação Portuguesa das Colectividades esteve reunido, em Lisboa, no dia 31 de Março, e aprovou, por unanimidade, uma resolução de solidariedade com a ANAFRE, pela luta que está a desenvolver contra a Proposta de Lei 44/XII.
Neste documento, a Confederação apela ainda às colectividades e às associações que participem no debate sobre esta problemática ao nível local, «mobilizando e avaliando em cada caso concreto o que é melhor para as populações e para o associativismo, manifestando junto do Governo e dos partidos políticos na Assembleia da República a sua posição», e que «se juntem aos eleitos e aos trabalhadores das juntas de freguesia», demonstrando a sua determinação para, em conjunto, continuar a luta.
«Milhares de eleitos das juntas de freguesia iniciaram a sua experiência de serviço comunitário nas colectividades, sendo por isso profundos conhecedores da importância das duas frentes que se complementam e sem as quais a nossa democracia seria muito mais pobre», lê-se na resolução, onde se afirma que «uma eventual decisão administrativa de agregação ou de extinção de freguesias, sem ter em conta a realidade e a necessidade local, sem considerar a vontade das populações, em particular dos seus representantes, seria um duro golpe na democracia portuguesa e um sinal de ditadura».
Madeira pode perder 24 freguesias
A Região Autónoma da Madeira não está imune a esta desastrosa tentativa de reorganização autárquica, com o Governo PSD/CDS a preparar-se para extinguir entre 16 a 24 freguesias, um rude golpe para muitas localidades. A CDU está, desde o início, na linha da frente da luta contra esta proposta legislativa, tendo já realizado, desde Outubro de 2011, uma série de petições locais, as quais, para além de denunciarem as intenções do Governo da República, apelam à resistência e à luta das populações das freguesias visadas pela fusão ou extinção.
No plano institucional, a CDU da Madeira apresentou na Assembleia Legislativa um voto de protesto, o qual se opõe à pretensão do Governo da República de avançar com a reorganização autárquica, e que mereceu o voto da maioria parlamentar.
Contudo, esclarece em nota à comunicação social, «verifica-se que a posição das outras forças políticas sobre este assunto parece ser ambígua, esmagadora mesmo». «Aliás, foram frequentes os reparos dos outros partidos nos órgãos de Poder Local, a propósito de iniciativas similares apresentadas pelos eleitos da CDU, reparos esses que davam a entender que ainda era cedo para qualquer tomada de posição contra a proposta do Governo da República; agora, que se caminha a passos largos para a sua implementação, esses mesmos partidos tentam, atabalhoadamente, corrigir a mão e tentar fazer passar uma imagem de defesa do Poder Local democrático», referem os eleitos do PCP, lembrando que «deixar passar a vontade do Governo PSD/CDS seria passar por cima de raízes históricas e culturais muito fortes, seria afastar os centros decisores dos cidadãos que os elegeram, seria limitar fortemente a democracia».
Neste sentido, a CDU apela a todos os madeirenses e portossantenses para que façam «frente a mais esta ofensiva contra direitos essenciais das populações, e que põe em causa o desenvolvimento e o progresso social».
Sesimbra contra ataque ao Poder Local
Os presidentes das juntas de freguesia do Castelo, Santiago e Quinta do Conde, concelho de Sesimbra, reuniram-se no dia 27 de Março para analisar a Proposta de Lei n.º 44/XII – Reorganização Administrativa Territorial Autárquica.
«A Proposta de Lei ora apresentada, e já votada por maioria na Assembleia da República, em sede de generalidade dos partidos que sustentam a coligação do Governo PSD/CDS, apesar das alterações dos critérios de agregação/liquidação de freguesias, vem materializar os princípios ideológicos do anterior Documento Verde, de ataque às autarquias e enfraquecimento da democracia local», salientam, numa tomada de posição, os eleitos Francisco Jesus (Castelo), Ana Cruz (Santiago) e Vítor Nunes (Quinta do Conde).
No documento, os presidentes de Junta consideram ainda «insuficientes» as verbas atribuídas pelo Fundo de Financiamento das Freguesias (FFF), e informam que, desde 2009, as freguesias do concelho perderam, até ao presente ano, cerca de 60 mil euros provenientes do FFF, quando no mesmo período o Orçamento do Estado (OE) aumentou.